Santíssimo
Corpo e Sangue e Cristo
7 de
Junho de 2007
Solenidade
RITOS INICIAIS
Cântico
de entrada: Da Flor da Farinha os
Alimentou, M. Carneiro, NRMS
37
Salmo 80,17
Antífona
de entrada: O Senhor alimentou o
seu povo com a flor da farinha e saciou-o com o mel do rochedo.
Diz-se o Glória.
Introdução ao
espírito da Celebração
Quis o Senhor
estabelecer um Sacramento que, sendo ao mesmo tempo Sacrifício e Memorial da
sua Paixão, tivesse a forma de um Banquete, onde tivéssemos como alimento, sob
as espécies do pão e do vinho, o seu próprio Corpo e Sangue. Na Eucaristia, o
Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-se connosco.
A solenidade do Corpo
de Deus que hoje celebramos é verdadeiramente a festa de Deus no meio de nós
Oração
colecta: Senhor Jesus Cristo,
que neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão,
concedei-nos a graça de venerar de tal modo os mistérios do vosso Corpo e
Sangue que sintamos continuamente os frutos da vossa redenção.
Liturgia da
Palavra
Primeira Leitura
Monição: A oferta do pão e do vinho a Abraão por parte de
Melquisedec, rei-sacerdote de Jerusalém, sempre foi vista pela liturgia da
Igreja como figura do Sacrifício Eucarístico.
Génesis 14, 18-20
Naqueles dias, 18Melquisedec,
rei de Salém, trouxe pão e vinho. Era sacerdote do Deus Altíssimo 19e
abençoou Abraão, dizendo: «Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo, criador
do céu e da terra. 20Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou nas
tuas mãos os teus inimigos». E Abraão deu-lhe a dízima de tudo.
«Melquisedec», rei-sacerdote de «Salém», isto é, Jerusalém. Salém significa paz (xalom); Jerusalém (Yeruxaláyim) significa «fundação de paz»; era a capital dos Jebuseus, que David viria a conquistar muitos séculos depois. Após a expedição de Abraão contra os quatro reis orientais que tinham saqueado a zona do Mar Morto, a Pentápole, Abraão e os seus homens armados tinham chegado vitoriosos (v. 16), mas exaustos. O rei de Jerusalém, reconhecido pelo perigo que Abraão afastara das suas vizinhanças, veio ao seu encontro com abastecimentos de pão e vinho para restabelecer as forças das tropas cansadas. Abraão, agradecido por tal atitude, decide recompensar Melquisedec com o dízimo de todos os despojos que trazia da expedição guerreira. A tradição patrística e a Liturgia, viram na oferta de pão e vinho uma figura do Sacrifício Eucarístico; no Cânone Romano pede-se a Deus que aceite o Sacrifício da Missa como aceitou o sacrifício de Melquisedec. Mas podemos perguntar: esta oferta foi um verdadeiro sacrifício, ou um simples auxílio às tropas cansadas? Se é certo que o verbo hebraico, «trouxe», não pertence ao vocabulário sacrifícial, também é certo que Melquisedec era sacerdote e foi nesta condição que «trouxe pão e vinho», sendo coerente que tivesse sido oferecido antes em sacrifício, talvez em acção de graças da vitória obtida. Pelo Salmo109 (110) e por Hbr 7, sabemos que Melquisedec é uma figura de Cristo. Também Jesus – o anti-tipo de Melquisedec – alimenta os seus soldados, cansados na batalha contra os inimigos do Reino, com o pão e o vinho eucarístico, o seu Corpo e Sangue oferecido em sacrifício; por isso a Igreja reza: «da robur, fer auxilium» (dá-nos força, traz-nos auxílio).
Salmo Responsorial Sl 109 (110), 1-4
(R. 4bc)
Monição: Sacerdote e Vítima no altar da Cruz, Jesus continua a sê-lo no altar da Eucaristia, oferecendo-se de
modo incruento pelas mãos do Sacerdote.
Refrão: O
Senhor é sacerdote para sempre.
Ou: Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de
Melquisedec.
Disse o Senhor ao meu
Senhor:
«Senta-te à minha
direita,
até que Eu faça de teus inimigos escabelo de
teus pés.
O Senhor estenderá de
Sião
o ceptro do teu poder
e tu dominarás no meio dos teus inimigos.
A ti pertence a
realeza desde o dia em que nasceste
nos esplendores da santidade,
antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».
O Senhor jurou e não
Se arrependerá:
«Tu és sacerdote para
sempre,
segundo a ordem de Melquisedec».
Segunda Leitura
Monição: O relato da última Ceia feito por S. Paulo é
certamente o testemunho mais antigo que nos chegou sobre a instituição da
Eucaristia.
1
Coríntios
11, 23-26
Irmãos: 23Eu
recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor
Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, 24partiu-o
e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». 25Do
mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova
aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de
Mim». 26Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes
deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que
Ele venha.
Temos aqui o relato da última Ceia, o mais antigo dos quatro que aparecem no N. T., escrito apenas uns 25 anos após o acontecimento. São Paulo diz que isto mesmo já o tinha pregado aos cristãos (v. 23) uns quatro anos atrás, durante os 18 meses em que evangelizou a cidade de Corinto, por ocasião da sua segunda viagem.
23 «Recebi do Senhor»: O original grego (com o uso da preposição apó e não pará) deixa ver que S. Paulo recebeu esta doutrina pela tradição que remonta ao Senhor e não directamente dele, por meio de alguma revelação, como alguém poderia pensar. «Na noite em que ia ser entregue»: Há uma dupla entrega do Senhor, a sua entrega às mãos dos seus inimigos, para morrer pelos nossos pecados e nos ganhar a vida divina, e a entrega no Sacramento da SS. Eucaristia, como alimento desta mesma vida divina. Para o seu amor infinito, é pouco dar-se todo uma só vez por todos; quer dar-se todo a cada um de nós todas as vezes que nos disponhamos a recebê-lo!
24 «Isto é o Meu Corpo»: A expressão de Jesus é categórica e terminante, sem deixar lugar a mal entendidos. Não diz «aqui está o meu corpo», nem «isto simboliza o meu corpo», mas sim: «isto é o meu corpo», como se dissesse «este pão já não é pão, mas é o meu corpo». Todas as tentativas heréticas de entender estas palavras num sentido meramente simbólico, fazem violência ao texto e não têm seriedade. É certo que o verbo «ser» também pode ter o sentido de «ser como», «significar», mas isto é só quando do contexto se possa depreender que se trata duma comparação, o que não se dá aqui, pois não se vê facilmente como o pão seja como o Corpo de Jesus, ou como é que o pode significar. Atenda-se a que Jesus, com a palavra isto não se refere à acção de partir o pão, pois não pronuncia estas palavras enquanto parte o pão, mas depois de o ter partido; portanto não tem sentido dizer que, com a fracção do pão, o Senhor queria representar o despedaçar do seu corpo por uma morte violenta (o corpo entregue); Jesus não podia querer dizer tal coisa, pois, se o quisesse dizer, havia de o explicitar, uma vez que o gesto de partir o pão era um gesto usual do chefe da mesa em todas as refeições, não sendo possível ver um outro sentido; por outro lado, o beber do cálice de modo nenhum se podia prestar a um tal sentido simbólico.
Os Apóstolos vieram a entender as palavras de Jesus no seu verdadeiro realismo, como aparecem no discurso do Pão da Vida (Jo 6, 51-58). Se Jesus não quisesse dar este sentido realista às suas palavras, também os seus discípulos e a primitiva Igreja não lho podiam dar, porque beber o sangue era algo sumamente escandaloso para gente criada no judaísmo, que ia ao ponto de proibir a comida de animais não sangrados. Se S. Paulo não entendesse estas palavras de Jesus num sentido realista, não teria podido afirmar no v. 27 (omitido na leitura de hoje): «quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor»; e no v. 29 fala de «distinguir o corpo do Senhor».
Paulo VI, na encíclica Misterium fidei, rejeitou as explicações teológicas (transignificação e transfinalização) que não respeitem suficientemente o realismo da presença real: «Mas para que, ninguém entenda erroneamente este modo de presença, que supera leis da natureza e constitui o maior dos milagres no seu género, é preciso seguir com docilidade a voz da Igreja docente e orante. Pois bem, esta voz, que é um eco perene da voz de Cristo, assegura-nos que Cristo se torna presente neste Sacramento pela conversão de toda a substância do pão no seu corpo e de toda a substância no vinho no seu sangue; conversão admirável e singular à qual a Igreja justamente e com propriedade chama transubstanciação» (atenda-se a que aqui a noção de substância não é a da Física ou da Química, mas a da Metafísica).
24-25 «Fazei isto em memória de Mim»: Com estas palavras, Jesus Cristo entrega aos Apóstolos (e aos seus sucessores) o poder ministerial de celebrar o Mistério Eucarístico; por isso, Quinta-Feira Santa é o dia do sacerdócio e dos sacerdotes.
25 «A Nova Aliança com o meu Sangue»: Jesus compara o seu sangue, que vai derramar na cruz, ao sangue do sacrifício da Aliança do Sinai (cf. Ex 24, 8), como sendo o novo sacrifício com que se ratifica a Nova Aliança de Deus com a Humanidade, aliança anunciada pelos profetas (Jer 31, 31-33). Na Ceia temos o mesmo sacrifício do Calvário antecipado sacramentalmente através das palavras do próprio Jesus. Na Missa temos igualmente o mesmo sacrifício da Cruz renovado e representado sacramentalmente através da dupla consagração feita pelo sacerdote, que actua na pessoa e em nome de Cristo, sendo Ele o mesmo oferente principal, a mesma vítima e sendo os merecimentos os mesmos do único Sacrifício redentor a serem aplicados, Sacrifício oferecido de uma vez para sempre (efápax: cf. Hebr 9, 25-28; 10, 10.18).
26 «Anunciareis a Morte do Senhor»:
No altar já não se derrama o sangue de Cristo, como na Cruz, mas oferece-se, de
modo incruento, o mesmo sacrifício, renovando e representando sacramentalmente
o mistério da mesma Morte que se deu no Calvário.
Aclamação ao
Evangelho Jo 6, 51
Monição: O milagre da multiplicação dos pães preparou as
pessoas para o milagre da Eucaristia. Aclamemos o Senhor com alegria e com
muita gratidão pelo seu grande amor para connosco.
Aleluia
Cântico:
Az. Oliveira, NRMS 36
Eu sou o pão vivo
descido do Céu, diz o Senhor.
Quem comer deste pão
viverá eternamente.
Evangelho
São Lucas 9, 11b-17
Naquele tempo, 11bestava
Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que
necessitavam. 12O dia começava a declinar. Então os Doze
aproximaram-se e disseram-Lhe: «Manda embora a multidão para ir procurar
pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num
local deserto». 13Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós de comer». Mas eles
responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes... Só se formos nós
mesmos comprar comida para todo este povo». 14Eram de facto uns
cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de
cinquenta». 15Assim fizeram e todos se sentaram. 16Então
Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou
sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os
distribuírem pela multidão. 17Todos comeram e ficaram saciados; e
ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Há uma profunda relação entre este milagre e a instituição da Eucaristia. A própria descrição dos gestos de Jesus ao fazer o milagre sugere os seus gestos na Ceia: «abençoou», «partiu», «deu aos discípulos». Com este milagre, é prefigurado o prodígio da Eucaristia e os Apóstolos são preparados para receberem tão grande dom e o distribuírem aos fiéis: «para eles os distribuírem pela multidão» (v. 16). A linguagem do relato deixa ver fortes ressonâncias litúrgicas, provenientes certamente da vida das primitivas comunidades, que celebravam a Eucaristia. O IV Evangelho conserva-nos a promessa do Pão da Vida no discurso eucarístico (Jo 6, 32-58), na sequência deste mesmo milagre. Lucas não refere a 2ª multiplicação dos pães, que se insere na chamada grande omissão de Lucas relativamente a Marcos, que lhe terá servido de fonte (Mc 6, 45 – 8, 26); por outro lado Lucas costuma omitir relatos paralelos, para não se alongar sem necessidade.
13 «Dai-lhes vós de comer.» Jesus sabia o que ia fazer, como sublinha o relato muito mais pormenorizado de S. João; e disse isto para os pôr à prova (Jo 6, 6), isto é, para ver até que ponto os seus Apóstolos estavam capacitados para confiar na omnipotência divina que Jesus lhes tinha vindo a mostrar com tantos milagres já realizados.
Sugestões para a
homilia
1. Pão vivo descido do
Céu.
2. Penhor de vida
eterna.
3. Sacramento da
caridade.
1.
Pão vivo descido do Céu.
Depois de Jesus ter
saciado a multidão com a multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus interpela
os que o seguiram até à Sinagoga de Cafarnaum: «Meu Pai é que vos dá o
verdadeiro Pão que vem do Céu. O Pão de Deus é o que desce do Céu para dar a
vida ao mundo» (Jo 6, 32-33).
A Eucaristia é
verdadeiro alimento que sustenta as nossas forças neste longo caminhar para
Deus; é alimento que torna suave o seu jugo e leve a sua carga, que nos protege
contra os perigos e vacilações e dá vigor ao nosso andar.
«Na Eucaristia, Jesus
não dá 'alguma coisa', mas dá-se a si mesmo; entrega o seu Corpo e derrama o
seu Sangue. Deste modo, dá a totalidade da sua própria vida, manifestando a
fonte originária deste amor: Ele é o Filho eterno que o Pai entregou por nós»
(Bento XVI, Sacramento da Caridade, 7).
Cada comunhão é um
novo caudal de graças, é uma nova luz e um novo impulso que, mesmo sem o
notarmos, nos dá fortaleza para a luta espiritual e nos deleita como todo o
alimento: «Tudo o que faz o manjar e a bebida materiais – sustentar, aumentar,
reparar e deleitar – fá-lo este Sacramento na vida espiritual» (S.Th III,q.79,a1c)
2.
Penhor de vida eterna.
«Eu sou o Pão vivo
que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão que Eu
hei-de dar é aminha carne que Eu darei pela vida do
mundo» (Jo 6, 51).
«Assim como o pão que
procede da terra, recebendo a invocação de Deus, já não é um pão corrente, mas
é Eucaristia...assim também os nossos corpos, recebendo a Eucaristia, já não
são corruptíveis mas têm a esperança da Ressurreição» (S. Ireneu, Adv. haer. 4,
18,5).
A Eucaristia, como
Sacramento da Caridade, abrasa e consome as impurezas da alma, purifica-a de
sua faltas veniais e deposita nela um gérmen de imortalidade, de vida eterna.
Na Eucaristia é-nos
dado «saborear antecipadamente a consumação escatológica para a qual todo o ser
humano e a criação inteira estão a caminho» (Rom. 18, 19s). O ser humano é criado para a felicidade verdadeira e
eterna, que só o amor de Deus pode dar... «O banquete eucarístico é uma
antecipação real do banquete final, preanunciado pelos profetas (Is. 25, 6-9) e descrito no Novo
Testamento como as 'núpcias do Cordeiro' (Apoc. 19, 7-9), que se hão-de
celebrar na comunhão dos santos.» (Bento XVI, Sacramento da Caridade, 30-31).
3.
Sacramento da caridade.
«Sacramento da
Caridade (S.Th.III,q.73,a.3.), a Santíssima Eucaristia
é a doação que Jesus Cristo faz de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de
Deus por cada pessoa. Neste Sacramento admirável, manifesta-se o amor 'maior':
o amor que leva a 'dar a vida pelos amigos' (Jo 15, 13). De facto, 'Jesus amou-os até ai fim' (Jo 13, 1)...Jesus continua a amar-nos
'até ao fim', até ao dom do seu Corpo e do seu Sangue...Que maravilha deve
suscitar no nosso coração o mistério eucarístico» (Bento XVI, Sacramento da
Caridade, 1).
S. Paulo, na primeira
Carta aos Coríntios, recorda-nos que «se há um só pão, somos todos um mesmo
corpo, posto que todos participamos de um mesmo pão» (10,17); a adesão pessoal,
íntima e operativa a Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico que é a Igreja,
explica e reforça a união entre os seus membros – união que deve manifestar-se
na caridade, em obras de amor e de serviço aos nossos irmãos, sem qualquer
acepção de pessoas.
«Quem poderá dividir
e apartar da sua união natural aqueles que por este único e santo corpo se
uniram intimamente com Cristo?» (S. Cirilo de Alex., in Joan.Ev.com. 11,11).
«É significativo o
modo como a Oração Eucarística II, ao invocar o Paráclito, formula a prece pela
unidade da Igreja: '...participando no Corpo e Sangue de Cristo, sejamos
reunidos, pelo Espírito Santo, num só Corpo'. Esta passagem ajuda a compreender
como a eficácia do sacramento eucarístico seja a unidade dos fiéis na comunhão
eclesial. Assim, a Eucaristia aparece na raiz da Igreja como mistério de
comunhão» (Bento XVI, Sacramento da Caridade, 15).
Fala o Santo Padre
«A Igreja vive da
Eucaristia!»
1. «Todas as vezes que comerdes deste pão
e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha» (1
Cor 11, 26).
Com estas palavras,
São Paulo recorda aos cristãos de Corinto que a «ceia do Senhor» não é apenas
um encontro de convívio, mas também e sobretudo o memorial do sacrifício
redentor de Cristo. Quem nele participa explica o Apóstolo une-se ao mistério
da morte do Senhor, aliás, faz-se «anunciador» da mesma.
Portanto, existe um
relacionamento muito estreito entre o «fazer a Eucaristia» e «o
anunciar Cristo». Entrar em comunhão com Ele, no memorial da Páscoa,
significa ao mesmo tempo tornar-se missionário do evento que tal rito
actualiza; num certo sentido, significa torná-lo contemporâneo de todas
as épocas, até que o Senhor volte.
2. Caríssimos Irmãos e
Irmãs, revivemos esta maravilhosa realidade na hodierna solenidade do Corpus
Christi, em que a Igreja não apenas celebra a Eucaristia, mas também
a leva de forma solene em procissão, anunciando publicamente que o
Sacrifício de Cristo é para a salvação do mundo inteiro.
Reconhecido por este
dom imenso, ela reúne-se em redor do Santíssimo Sacramento, porque ali estão a
fonte e o ápice do próprio ser e agir. Ecclesia de Eucharistia vivit! A
Igreja vive da Eucaristia e sabe que esta verdade não exprime apenas uma
experiência quotidiana de fé, mas encerra de modo sintético o núcleo do
mistério que ela mesma é (cf. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 1).
[…]
4. «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Lc 9, 13).
A página evangélica
que acabámos de escutar oferece uma imagem eficaz do vínculo íntimo que existe
entre a Eucaristia e esta missão universal da Igreja. Cristo, «pão vivo que
desceu do Céu» (Jo 6, 51; cf. Aclamação ao Evangelho), é o único
que pode saciar a fome do homem de todos os tempos e em todas as regiões da
terra.
Porém, ele não quer
fazê-lo sozinho, e assim, como na multiplicação dos pães, envolve também os
discípulos: «Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao
céu, pronunciou sobre eles a bênção, partiu-os deu-os aos discípulos para que
os distribuíssem à multidão» (Lc 9, 16).
Este sinal milagroso é
figura do maior mistério de amor que se renova cada dia na Santa Missa:
mediante os ministros ordenados, Cristo dá o seu Corpo e o seu Sangue pela vida
da humanidade. E quantos se nutrem dignamente à sua Mesa, tornam-se
instrumentos vivos da sua presença de amor, de misericórdia e de paz. […]
João Paulo II, 10 de Junho
de 2004
Oração Universal
Neste dia em que
celebramos a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, roguemos a Deus
para que a Eucaristia torne possível dia após dia a progressiva transformação
do homem e da sociedade, dizendo:
R. Ouvi-nos, Senhor.
1. Pelo Papa, pelos Bispos e Sacerdotes:
para que encontrem na Eucaristia
a
razão de ser e a força das suas vidas,
oremos, irmãos.
2. Pela paz e prosperidade de todo o mundo:
para que, pela força da Eucaristia,
a fome, as
calamidades e as guerras
se afastem de todos os povos,
oremos, irmãos.
3. Pelos jovens que procuram conhecer
a
vontade de Deus na sua vocação,
para que na oração, na piedade eucarística
e no compromisso
apostólico,
encontrem a certeza que procuram,
oremos ao Senhor.
4. Pelos que não conhecem a Cristo,
para que iluminados pela luz da fé,
se abram à Salvação que teve início
no grande momento da Encarnação,
oremos, irmãos.
5. Por todos nós aqui reunidos,
pelos membros das nossas famílias e comunidades,
para que tenhamos cada vez mais amor
à
Eucaristia, comungando com mais fé e devoção, e
visitando muitas vezes Jesus no Sacrário,
oremos, irmãos.
6. Pelos defuntos da nossa comunidade e do mundo
inteiro:
para que, purificados das sua faltas,
possam contemplar na eternidade o rosto de Cristo glorioso,
oremos, irmãos.
Senhor, nosso Deus,
Vós que desejais a
salvação de todos os homens,
e para isso nos destes o Vosso Filho
Unigénito,
fazei que Ele seja conhecido, amado e adorado
no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, Vosso Filho,
que é Deus convosco, na unidade do Espírito
Santo.
Liturgia
Eucarística
Cântico
do ofertório: Oh
Verdadeiro Corpo do Senhor, C. Silva, NRMS 42
Oração
sobre as oblatas: Concedei,
Senhor, à vossa Igreja o dom da unidade e da paz, que estas
oferendas misticamente simbolizam. Por Nosso Senhor...
Prefácio da Eucaristia
Santo:
J. Duque, NRMS 21
Monição da
Comunhão
Peçamos a Nossa
Senhora do Santíssimo Sacramento, «Mulher Eucarística», modelo insubstituível
de piedade eucarística, que nos consiga a graça de recebermos o Seu Filho Jesus
Cristo nesta Comunhão com a mesma pureza, humildade e devoção com que Ela O
recebeu.
Cântico
da Comunhão: Saciastes o Vosso Povo, F. Silva, NRMS 90-91
Jo 6, 57
Antífona
da comunhão: Quem come a minha
Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele, diz o Senhor.
Cântico
de acção de graças: Comemos, ó Senhor, do
mesmo Pão, M. Borda, NRMS 43
Oração
depois da comunhão: Concedei-nos,
Senhor Jesus Cristo, a participação eterna da vossa divindade, que é
prefigurada nesta comunhão do vosso precioso Corpo e Sangue.
Ritos Finais
Monição final
Alimentados com o pão
celestial e com a Palavra de Deus, sejamos em toda a parte imagens vivas de
Cristo. A Eucaristia, como mistério de amor, enche-nos de alegria pela sua
presença no meio de nós. Sejamos testemunhas desta alegria junto de todos os
nossos familiares e amigos.
Cântico
final: Deus é Pai, Deus é Amor, F. Silva, NRMS 90-91
Homilias Feriais
6ª feira, 8-VI: Dar graças sempre e em toda a parte.
Tob
11, 5-17 / Mc 12, 35-37
(Tobit):
Bendito seja Deus, bendito o seu grande nome. Benditos sejam todos os seus
Santos e Anjos.
Tobit, ao recuperar o
filho e ficar curado da vista, eleva a Deus este cântico de acção de graças (cf. Leit).
A Missa é a mais perfeita acção de graças
que se pode oferecer a Deus. Já no Prefácio
reconhecemos e proclamamos que é «nosso dever, é nossa salvação dar-vos graças
sempre e em toda a parte». Devemos agradecer sempre, pois qualquer circunstância da vida é ocasião apropriada
para agradecer a Deus, mesmo quando nos custe entender alguns acontecimentos ou
contrariedades. E em toda a parte,
nas circunstâncias da vida quotidiana, em casa, no local de trabalho, nos
hospitais, nas escolas…
Sábado, 9-VI: A
apresentação das oferendas.
Tob
12, 1. 5-15. 20 / Mc 12, 38-44
(Rafael):
pois, sempre que oravas, tal como Sara, eu apresentava o memorial da vossa
oração ao Senhor da glória.
O Arcanjo Rafael fazia
chegar à presença do Senhor a oração e os sacrifícios de Sara e Tobias (cf.
Leit). A viúva pobre dava como esmola no Templo tudo o que possuía (cf. Ev).
Na Santa Missa temos o momento mais
oportuno para renovarmos o oferecimento da nossa vida e das nossas obras do
dia, na apresentação das oferendas.
Este gesto tem um significado profundo: no pão e no vinho toda a criação é assumida por Cristo Redentor para ser transformada
e apresentada ao Pai. E levamos também ao altar todo o sofrimento e tribulação do mundo, com a certeza de que tudo é
precioso aos olhos de Deus (cf. SC, 47).
Celebração e Homilia: Alfredo
Melo
Nota Exegética: Geraldo
Morujão
Homilias Feriais: Nuno
Romão
Sugestão Musical: Duarte
Nuno Rocha