JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE 2023

Pequena memória de um grande acontecimento

 

 

 

O mundo inteiro dirigiu os seus passos e olhares para este jardim à beira mar plantado, no nos fins de julho, a fim de tomar parte nas Jornadas Mundiais da Juventude, com a presença física ou, ao menos, com o coração. Os que não puderam vir, não desolaram o olhar dos ecrãs da TV, para saborearem, mesmo ao longe.

Nestes dias de festa, Lisboa voltou a ser, como nos tempos das descobertas, onde se cruzaram povos de todos os recantos deste mundo.

De 187 países, apenas um – as Maldivas – não se fez representar pelos seus jovens, neste encontro de corações enamorados.

Os que viajaram de longe foram acolhidos pelas famílias e instituições de todo o país, conheceram as belezas de Portugal e a grandeza do coração dos seus habitantes e estabeleceram laços de amizade que, em muitos casos vão perdurar.

Em princípios de agosto, todos os olhares se voltaram para Lisboa, durante poucos dias, capital do reino da fé, presidido pelo Vigário de Cristo na terra.

As Jornadas Mundiais da Juventude brotaram do coração de Bom Pastor de S. João Paulo II, em 1986 e foram-se alternado, em cada ano entre Roma e uma cidade de mundo, percorrendo sucessivamente quase todos os Continentes.

“A JMJ é um convite a todos os jovens do mundo para uma experiência de Deus”, disse à ACI Digital o bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023

“As JMJ são indiscutivelmente uma ótima oportunidade para esse encontro nuclear de cada jovem com Deus. O Papa propõe aos jovens a experiência da Eucaristia, da confissão, da adoração, e ainda tem esse momento tão especial em que vai confessar jovens”, indica o padre Gonçalo Abreu Rocha, em entrevista.

O sacerdote assinala a importância do encontro mundial, que Portugal vai receber de 1 a 6 de agosto, para que que os jovens católicos possam “viver cada um a sua vocação na Igreja, qualquer que ela seja”.

“Creio que vemos vários sinais de grande atração dos jovens pela fé. É muito habitual que cada rapaz e cada rapariga reaja com impetuosa generosidade quando descobre, quando toca, que Deus é bom, está vivo, fez-se jovem em Jesus”, acrescenta. (Entrevista em 26.VI.23)

Até ao presente, houve 14 edições internacionais da JMJ – que decorrem de forma alternada com uma celebração anual em cada diocese católica:

O Logotipo da Jornada em Lisboa evoca as cores da bandeira de Portugal – verde e vermelho – sobre uma cruz, com um caminho a seguir ao lado.

 

Maria, na JMJ23

O santo Padre escolheu como tema das Jornadas a Visitação e Maria a Santa Isabel, andando apressadamente pelas montanhas ao encontro da sua parente.

Este encontro ficou marcado também por outros acontecimentos marianos.

Um numeroso grupo de escuteiros transportou a pé a imagem peregrina desde Fátima até ao Parque Tejo. A última parte do percurso foi feita em barco engalanado, à boa maneira portuguesa.

O Santo Padre deslocou-se a Fátima, para orar com os deficientes, na Capelinha das Aparições, na manhã do sábado, 5. Esperava-o uma multidão de fiéis que o ovacionou desde o lugar onde poisou o heli até ao Santuário. Um percurso relativamente breve levou mais de meia hora a percorrer, porque ao longo do percurso, elevavam crianças para o carro papal, a fim de que o Santo Padre as beijasse e abençoasse.

Na madrugada do dia seis, a imagem da Capelinha das Aparições foi transportada para o Campo da Graça, no Parque Tejo, onde se desenrolou a celebração eucarística de manhã de domingo com a qual se encerram as Jornadas.

Antes de viajar para Lisboa, em 31 de julho, foi a Santa Maria Maior, rezar diante da imagem de Nossa Senhora Salus Populi Romani, recomendando-lhe esta atividade apostólica. Voltou lá no dia 8 de agosto, para lhe agradecer.

 

Os Padreiros das Jornadas de Lisboa

Os Padroeiros da JMJ Lisboa 23

Foram escolhidos treze padroeiros para este encontro mundial de jovens, cada um deles, com uma referência especial. Além disso, cada Diocese apresentou os seus patronos locais.

1. São João Paulo II e os pobres; 2. São João Bosco e a alegria; 3. São Vicente e os corvos que o protegiam; 4. Santo Antônio de Pádua e de Lisboa; 5. São Bartolomeu e as vocações. São Bartolomeu (1514-1590) nasceu em Lisboa. Ele também é conhecido como São Bartolomeu dos Mártires e foi Arcebispo de Braga; 6. São João de Brito e as periferias; 7. Joana, uma princesa beata; Beato João Fernandes e a coragem nas missões; 9. Beata Maria Clara:– de uma família nobre à vida franciscana; 10. Beato Pier Giorgio, protetor dos necessitados; 11. Beato Marcel Callo e a pastoral no mundo do trabalho; 12. Beata Chiara Badano e seu testemunho de fé durante a doença; 13. Beato Carlo Acutis e a evangelização na Internet.

Além destes patronos da igreja universal, cada Diocese escolheu os Seus Patronos.

 

O Festival da Juventude

Dentro da realização das Jornadas, estava previsto um festival de Juventude, na qual os mais novos dessem um testemunho de alegria comunicativa.

O Festival da Juventude foi um conjunto de eventos culturais, religiosos e desportivos, protagonizados pelos peregrinos da JMJ, numa partilha da vivência cristã feita por jovens de todo o mundo, fruto da sua criatividade e generosidade. O Festival da Juventude propôs-se proporcionar aos peregrinos da JMJ Lisboa 2023 e à cidade de Lisboa uma experiência de alegria, juventude, universalidade e fé, mostrando que a Igreja Católica é uma igreja viva e jovem, capaz de usar as linguagens e formas de arte da atualidade sem comprometer a mensagem que pretende transmitir.  Pelo contrário: a mensagem cristã pode ser transmitida também por estes meios.

Neste Festival houve eventos nas áreas de Música, Cinema, Exposições, Teatro e Dança, Desporto, Conferências, Eventos Religiosos e de Encontro (orações, testemunhos, adoração, encontros conduzidos por Movimentos, Associações e Congregações) e Museus. 

Música. Foram mais de 100 bandas, dos cinco continentes, em 9 palcos. Ao longo da JMJ Lisboa 2023, havia estilos musicais tão diferentes como rock, pop, rap, clássico e até folk! E também concertos orantes, onde a música ajuda realmente a rezar.

Conferências. Testemunhos de quem segue Jesus, conversas sobre vocação e missão e palestras sobre desafios atuais da sociedade, da cidadania e do mundo profissional com que os jovens se deparam.

Exposições. Foram mais de 15 as exposições patentes em vários espaços da cidade, com temas relacionados com a ecologia, as vidas de santos e de outras personalidades que marcaram a vida da Igreja, Fátima, e muito mais!

Teatro e dança. Durante a JMJ Lisboa 2023, houve a oportunidade de assistir a espetáculos de teatro, protagonizados por jovens peregrinos, incluindo musicais, exibições de dança tradicional e contemporânea, e até street dance.

Eventos Religiosos e de Encontro. Os jovens encontraram ali propostas de oração, dinamizadas por grupos, dioceses e movimentos de vários países, incluindo a oportunidade de rezar junto às relíquias de João Paulo II, fundador da JMJ, e também momentos de partilha e conhecimento da Igreja.

Cinema. Documentários sobre a vida de quem ousou seguir Jesus, longas-metragens e outros filmes sobre figuras relevantes da vida da Igreja compunham esta área do Festival da Juventude.

Desporto. “O desporto pode ser um símbolo de unidade para uma sociedade”, afirmou o Papa Francisco. Nesta área do Festival da Juventude, assistiu-se a um torneio de futebol e de voleibol de praia e a modalidades de desporto inclusivo.

O principal objetivo era proporcionar aos peregrinos de todo o mundo uma partilha da experiência cristã e um encontro de culturas através de uma linguagem universal: o desporto.  

A alegria do Festival da Juventude não ficou só ruas da cidade de Lisboa! Nas cidades e vilas de acolhimento, grupos locais organizaram eventos para os quais todos estavam convidados. Foi uma oportunidade de partilha de talento, traços culturais e religiosos entre peregrinos e populações locais.

Museus.  Os Museus associaram-se à JMJ Lisboa 2023 e ofereceram aos Peregrinos e Voluntários inscritos na JMJ Lisboa 2023 entrada gratuita ou com condições especiais.

Jovens de todo o mundo apresentaram os seus projetos e, uma vez selecionados, fizeram parte da programação oficial do Festival da Juventude.

 

A preparação espiritual

A preparação para as Jornadas Mundiais da Juventude começou logo que o Santo Padre anunciou, no Panamá, que o próximo encontro seria em Lisboa. Devido, porém, à pandemia do Covid-19, os trabalhos foram praticamente suspensos, até que a pandemia foi debelada. Esta paragem levou a mudar o encontro para o ano seguinte, em vez de se realizar em 2022, como estava previsto.

O Papa Francisco escolheu como tema a Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel, narrada por S. Lucas: Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

Maria subindo apressada às montanhas, ao encontro da mãe de S. João Batista foi tema de formação espiritual e até de canções.

Os Símbolos das Jornadas começaram uma peregrinação pelo mundo, como convite insistente à participação neste encontro eclesial. Nos últimos meses percorreram as Dioceses de Portugal atempo de marcarem presença em Lisboa, no princípio de agosto.

Constavam de um grande ícone de Nossa Senhora que tinha sido oferecido por S. João Paulo II para as Jornadas e uma pesada cruz, que diversas pessoas transportavam em cortejo religioso.

Além da preparação doutrinal nas respectivas dioceses e países, houve, na última semana de julho, uma preparação em cada Diocese de Portugal na qual se iam integrando os jovens que chegavam ao nosso país.

Entretanto, nos últimos tempos, o Papa dirigia com insistência, através dos Meios de Comunicação Social, um convite aos jovens do mundo inteiro para que marcassem presença em Lisboa.

 

Os trabalhos preparatórios

A JMJ23 mobilizou uma legião de pessoas que meteram as mãos à obra, realizando os mais diversos trabalhos.

Esteve na chefia desta grandiosa equipa D. Américo Aguiar, Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa e presidente da Fundação criada para as Jornadas.

Criou-se uma central de trabalhos na qual se revezavam inumeráveis e anónimos voluntários que tornaram possível o êxito destas Jornadas.

Foi preciso preparar um grande espaço junto ao Tejo e ao rio Trancão, dos concelhos de Lisboa e de Loures, transformando um lugar de descarte num espaço acolhedor onde não faltou a relva, para tornar mais acolhedor aquele espaço. Assim nasceu o Parque Tejo que, no futuro, será oferecido aos lisboetas como um belo espaço de lazer e de eventos.

Levantou-se aí um estrado imponente, coroado pelo altar da celebração e abriu-se espaço para o coro e orquestra, e muitos dos concelebrantes. Tudo ficou coroado por um belo dossel que aparecia como ex-libris das Jornadas em Lisboa.

Aí teve lugar a inesquecível vigília de adoração, no sábado à noite, com o impressionante silêncio e recolhimento daquela multidão de jovens alegres e comunicativos.

A ligar os espaços, foi construída uma ponte pedonal de madeira, sobre o rio Trancão.

Foi preciso preparar o Parque Eduardo VII, sem alterar a sua estética, para acolher os peregrinos, na Celebração das Boas Vindas; no primeiro encontro com o Santo Padre; e na Via-Sacra, de sexta feira à noite.

Na Colina do Perdão (Avenida Vasco da Gama), foram instalados 150 confessionários desenhados para as Jornadas de Lisboa.

Na Cadeia de Paços de Ferreira, os detidos entusiasmaram-se com a ideia e fabricaram mais um, para ficar no estabelecimento prisional, disponível para quem se quiser confessar.

A “mobília” para as celebrações foi confecionada no norte do país, sob a inspiração de um arquiteto: a cadeira da presidência; o ambão, bancos e cadeiras.

Estes voluntários trabalharam noite e dia, para dar corpo a este grande empreendimento. e 15 mil quartos de banho.

Evocando Lisboa como a Cidade das Sete Colinas, foram escolhidos nomes sugestivos para os lugares onde se iriam desenrolar a vida deste encontro.

Os nomes inspirados: Colina do Encontro (Parque Eduardo VII), Campo da Graça (Parque Tejo), Campo do Perdão (Avenida Vasco da Gama), Cidade da Alegria (Belém).

Foi adiantada uma seguinte explicação para estes nomes. Segundo a organização, o nome “Colina do Encontro” evoca “o encontro com Cristo Vivo, objetivo primeiro da Jornada Mundial da Juventude”. “Evoca, depois, a experiência da Igreja jovem que se encontra em Lisboa e quer sair ao encontro de todos. Além disso, evoca o encontro entre Maria e Isabel, verdadeiro encontro intergeracional, marcado pela alegria”. A designação oficial recorda também a passagem por Lisboa do Papa São João Paulo II, fundador da JMJ, em 1982.

Quanto ao “Campo da Graça”, no Parque Tejo, o nome realça o facto de ser a este local que “os peregrinos se vão dirigir, em ação de graças, para celebrar a Vigília e a Missa Final de uma semana que ficará seguramente no coração de todos para sempre”.

 

A linguagem dos números

Mais de um milhão de pessoas esteve presente nas celebrações de Lisboa, de 2 a 6 de agosto.

Aproximadamente 1.000 Bispos, dos quais cerca de uma centena pertenciam ao Colégio Cardinalício viveram em Lisboa estes dias de fé e de alegria; e 10.000 sacerdotes concelebraram com o Santo Padre e os Bispos, na manhã de 6 de agosto.

Dada a dimensão da JMJ Lisboa 2023, foram necessárias 6.000 píxides, recipientes litúrgicos que servem na conservação e distribuição das hóstias aos fiéis; e 200 cálices, onde foi consagrado o vinho durante a Eucaristia, para a comunhão dos padres e bispos. Os cálices e as píxides foram confecionados de madeira de casquinha.  O cálice tinha, entre as três linhas, uma pequena Cruz em tom de ouro, como o interior do objeto e a sua borda superior, representando o quão precioso é o mistério da Páscoa que nele se dá a beber.

O báculo, que consiste num bastão alto encimado por uma cruz e era empunhado pelo Papa, constava de uma vara dourada que atravessava uma forma pentagonal de prata, remetendo para as cinco chagas de Cristo. A cruz era de madeira de ébano, quase negra, e nela se encontram, formando um resplendor, as mesmas três linhas circulares de ouro.

25.000 voluntários disponibilizaram-se generosamente, para servir a todos.

Nada foi esquecido: alimentação, alojamento, transportes, saúde, e até uma AAP, para que se pudessem deslocar com facilidade em Lisboa.

Mobilizaram-se cerca de 12.000 ministros extraordinários da comunhão.

Para a celebração foram confecionados paramentos cujo tecido somado media 50.000 metros. Cada concelebrante pôde guardar, depois, como oferta e recordação, este paramento com os símbolos da JMJ23.

Foi erguida uma tenda de adoração, sempre ocupada por jovens que buscavam o silêncio para ouvir o Senhor.

Fez-se a chamada para colaborar a numerosas famílias de acolhimento espalhadas por todo o país; lançou-se mão de escolas e outros edifícios, para que os peregrinos tivessem o melhor acolhimento possível, nestas circunstâncias; providenciou-se para que houvesse refeições. Cuidou-se dos transportes e das vias de acesso aos diversos espaços de encontro; da saúde; da segurança, etc.

 

Fernando Silva

(Continua)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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